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Documentário ‘mais caro da História’, processos e sociedades: família Trump lucra milhões com negócios pós-eleição

O retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos garantiu em pouco tempo oportunidades financeiras para o magnata e sua família, revelou uma investigação do jornal americano Wall Street Journal (WSJ). Entre elas, um contrato de US$ 40 milhões (R$ 229 milhões) com a Amazon para um documentário sobre a primeira-dama, Melania Trump — o maior valor já pago pela empresa para um filme do tipo. Segundo o WSJ, o negócio faz parte de uma estratégia mais ampla de enriquecimento, que envolve desde acordos judiciais com empresas como a Meta e a Disney até lançamentos no mercado de criptomoedas e sociedades com empresas que promovem o conservadorismo.

Um levantamento do jornal aponta que, desde a eleição, empresas pagaram US$ 80 milhões (R$ 458 milhões) a Trump e sua família, incluindo recursos direcionados à sua biblioteca presidencial, descrita como uma organização sem fins lucrativos para preservar seu legado.

Lucro com processos

A oferta da Amazon é simbólica. Até há pouco tempo, Trump e Jeff Bezos, fundador da empresa, não tinham uma boa relação. A história começou a mudar em dezembro, em um jantar em Mar-a-Lago, residência da família presidencial na Flórida, onde Melania apresentou para Bezos e sua esposa o documentário — que já havia sido recusado por Netflix e Apple, recebido uma oferta baixa da Paramount e outra da Disney de US$ 14 milhões (R$ 80 milhões). Dos US$ 40 milhões (R$ 229 milhões) oferecidos pela Amazon, Melania levou uma fatia superior a 70%, segundo fontes do WSJ.

— É provavelmente o documentário mais caro já pago na História — disse ao jornal Alex Holder, diretor de uma série documental sobre a eleição de 2020. — Mesmo que você esteja fazendo uma série da National Geographic sobre elefantes e precise de equipamentos caríssimos para filmar com visão noturna, isso não custaria nem perto desse dinheiro.

O diretor Brett Ratner, conhecido por seu trabalho com Trump em filmes anteriores, foi contratado para liderar a produção, que será centrada no retorno da primeira-dama à Casa Branca. Ratner obteve acesso exclusivo à família, como filmagens no quarto presidencial na noite da posse. Melania também teria tentado vender patrocínios para o filme em troca de agradecimento nos créditos, e convites para a estreia a bilionários e CEOs, segundo o WSJ. Durante a campanha, a terceira esposa de Trump já cobrava altos valores por palestras e arrecadou com um livro de memórias.

Além dela, outros membros da família também embarcaram em empreendimentos bem-sucedidos após a vitória do magnata nas urnas. A começar pelo próprio Trump. Depois de ser acusado de incitar seus apoiadores nas redes sociais a atacarem o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, Trump processou empresas como o X (na época, Twitter) e a Meta por suspenderem seu perfil, alegando violação à liberdade de expressão. Em outras ações, o republicano processou empresas de mídia por difamação.

Assim que foi eleito para um segundo mandato, Trump conseguiu acordos em seu favor em diversos processos, muitos deles prestes a serem arquivados. Na ação contra a Meta, os detalhes do acordo começaram a emergir pouco antes de uma visita de Mark Zuckerberg, dono da empresa, a Mar-a-Lago em novembro. No jantar, o republicano teria deixado claro que o processo precisava ser resolvido para zerar a relação, segundo uma fonte ouvida pelo jornal. Ao final, a empresa concordou em pagar US$ 25 milhões (R$ 143 milhões).

Com o X, que desde 2022 está sob comando de um dos seus principais aliados, Elon Musk, Trump ganhou US$ 10 milhões (R$ 57 milhões), segundo fontes ouvidas pelo WSJ. A Disney também concordou em pagar US$ 15 milhões (R$ 85 milhões) por um processo de difamação movido contra a ABC News, subsidiária do grupo. Nos últimos meses, os advogados do presidente também vêm buscando acordos com a Paramount, devido a uma ação movida por Trump contra a CBS News, e com o Google num processo contra a remoção da sua conta no YouTube.

Avanços também estão acontecendo para a sua pessoa jurídica. Segundo o WSJ, a Organização Trump, sob a liderança de seus filhos, continua fazendo negócios com parceiros públicos e privados estrangeiros enquanto Trump ocupa a Presidência, alegando que ele teria “acesso limitado” às informações. Os esforços com a venda de produtos licenciados também cresceram, se comparado a oito anos atrás, de enfeites de Mar-a-Lago, vendidos pela Organização Trump, a relógios de ouro 18 quilates de US$ 100 mil (R$ 572 mil) comercializados por empresas parceiras, que não precisam prestar contas sobre os seus compradores.

Ações e criptomoedas

No mercado de ações, a nova Presidência se diferencia da anterior pela possibilidade de empresas e indivíduos agora poderem comprar ações da Trump Media & Technology, holding de capital aberto que inclui a Truth Social, criada pelo republicano depois que ele foi removido das principais plataformas. Trump transferiu suas ações para um fundo administrado pelo seu filho mais velho, Donald Trump Jr.

O primogênito tem sido um dos principais beneficiários da vitória do pai. Dias após a eleição, ele se tornou sócio de uma empresa de capital de risco que investe em companhias que propagam o conservadorismo, entre elas uma comandada por Tucker Carlson, ex-apresentador da Fox News demitido por dizer que a eleição de 2020 foi fraudada.

Donald Jr. também assumiu cargos em empresas que podem lucrar com políticas do governo, desde gastos do Pentágono até mercado de apostas e tarifas sobre a China. Ainda em novembro, ele se tornou consultor da fabricante de drones Unusual Machines. No mês passado, virou diretor da plataforma de receitas médicas BlinkRx e tornou-se consultor da Kalshi, startup do mercado de câmbio e previsões financeiras. Seu anúncio nas empresas já impulsionou suas ações a níveis exponenciais.

Trump e seus filhos Eric e Donald Jr. também vêm apostando no setor de criptografia. Na campanha do ano passado, o republicano disse que transformaria os EUA na “capital das criptomoedas”. Na mesma época, eles lançaram a World Liberty Financial, que arrecadou mais de US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão), vendendo seu token digital para compradores desconhecidos.

Fonte Globo.com